Henrique Bolgue
Da Secretaria de Comunicação da UnB
O professor Otto Ribas fala diariamente sobre Brasília nas salas de aula, laboratórios e corredores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, ele está como professor visitante no Departamento de Planejamento Urbano e Regional da Faculdade de Artes, Arquitetura e Urbanismo da instituição americana, considerada uma das melhores do mundo e localizada em uma capital, Albany, no estado de Nova York, que teve seu projeto inspirado em Brasília. Além da saudade dos familiares, ele usa exemplos de Brasília para adensar seu trabalho e apresentar desafios de desenvolvimento da capital brasileira aos americanos.
Otto tem uma longa história de relação com a cidade e com a UnB, onde se formou em Arquitetura e Urbanismo em 1981, fez mestrado na mesma área e doutorado em Desenvolvimento Sustentável. Sua linha de pesquisa trata do estudo comparado de gestão urbana entre os EUA e o Brasil. A pesquisa pretende avaliar metodologias e instrumentos de política urbana e ambiental e identificar novas ferramentas para construção da qualidade ambiental das áreas urbanas.
Para Otto, as desigualdades sociais dos municípios do Entorno do DF estão entre os principais empecilhos ao desenvolvimento da capital brasileira. “O Entorno precisa ser visto como parte da construção do desenvolvimento de Brasília”, diz. Outro desafio é a dicotomia entre expansão e adensamento urbano.
Segundo o pesquisador, para um território limitado em tamanho e de recursos ambientais escassos e frágeis, a solução é o adensamento. “Com isso otimizamos a infraestrutura já existente, como escolas e transporte, em vez de investir de novo, como acontece no setor Noroeste”. Para ele, falta uma política clara de planejamento e de habitação. “A atual política gerou muitos desequilíbrios sócio-ambientais. Falta gestão em Brasília”, diz.
Em entrevista ao UnBCiência, Otto traça um paralelo entre suas experiências na UnB e em Cornell. “A experiência multicultural é importante para qualquer profissão. O processo de globalização também é aplicável ao conhecimento, em especial à arquitetura, onde a cada dia novos materiais, novas idéias e novas técnicas construtivas são lançadas”.
UnBCiência: Você apresentou um trabalho sobre Brasília que fez muito sucesso na Universidade de Cornell. Como foi essa troca?
Otto Ribas: Montei uma exposição no final do ano passado, sobre os 50 anos de Brasília, onde pude mostrar, por meio de fotografias, um panorama da nossa cidade, desde o conjunto de idéias, passando pelo processo de construção até os dias atuais. Juntamente com a exposição, montei um conjunto de palestras para mostrar a evolução urbana de Brasília, o que gerou muito interesse, tanto pelos alunos e professores de planejamento urbano, quanto pelos de arquitetura. A recepção e o apoio foram fantásticos. O tema sempre é tratado nas disciplinas curriculares do curso, assim como a urbanização da Índia e China. As principais inquietações dos alunos em relação à cidade estão relacionadas à preservação de Brasília, as desigualdades sócio-espaciais e as ações de planejamento adotadas.
UnBCiência: Quais as facilidades e as dificuldades de pesquisa em Cornell?
Otto: Tenho todo o suporte para o desenvolvimento de ensino e pesquisa. Tenho disponível uma sala, acesso à Xerox, aos laboratórios do Departamento, às instalações da faculdade e a todas as bibliotecas. As dificuldades ficam por conta da saudade dos amigos e da família, do pastel com caldo de cana da Rodoviária e da picanha ao ponto das churrascarias da cidade.
UnBCiência: Quais as práticas que poderiam ser incorporadas na UnB para melhorar o desempenho e a qualidade da pesquisa?
Otto: A idéia de se fazer uma associação de universidades, como a Ivy League, onde aconteça o intercâmbio de professores, alunos, pesquisa, informações, livros, é uma das práticas mais interessantes que vejo por aqui. Dessa associação participam as seguintes universidades, além de Cornell: Harvard, Princenton, Columbia, Yale, Pennsylvania, Brown e Darmouth. A Ivy League começou como uma liga esportiva de intercâmbio entre universidades, e hoje, ela permite intercâmbio temporário de professores e de alunos.
UnBCiência: Qual sua impressão sobre a pesquisa científica do Brasil em comparação com a pesquisa americana?
Otto: A pesquisa no Brasil é totalmente dependente dos recursos públicos, enquanto aqui há participação de recursos públicos e também da iniciativa privada. No Brasil, certamente falta uma política pública que promova e incentive as parcerias entre as universidades e o setor produtivo brasileiro. As iniciativas que existem são isoladas. Um belo exemplo de iniciativa é a criação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB que tem promovido a criação de sistemas empreendedores a partir da graduação.
UnBCiência: Em relação à Arquitetura, qual é a questão atual no meio acadêmico americano?
Otto: As preocupações gerais das escolas de Arquitetura daqui, que são produzir espaços com qualidade e estimular a inovação tecnológica, não diferem muito do que se aprende no Brasil. As universidades têm investido bastante no ensino das chamadas green buldings (construções verdes). Tanto no que concerne à eficiência energética das edificações, como a preocupação com redução das emissões dos gases que promovem as mudanças climáticas. O interesse por Brasília e seu desenvolvimento é parte integrante de um programa da Universidade de Cornell. No verão daqui sempre há uma visita de alunos à Brasília, que geralmente são recepcionados pela Professora Lucia Cony, da Geografia, e supletivamente por mim e outros colegas da UnB.