7 DIVAS E SEUS CABELOS CRESPOS: POR QUE EU AMO MEU CABELO 4C?
Estilo de Vida

7 DIVAS E SEUS CABELOS CRESPOS: POR QUE EU AMO MEU CABELO 4C?




Nos últimos anos, em vários países do mundo, se fortaleceu um movimento de mulheres negras que incentiva e valoriza o uso do cabelo natural. Em oposição ao uso de produtos químicos que mudam a estrutura natural dos cabelos e os alisam, as mulheres começaram a usar seus cabelos naturais como um posicionamento político que envolve entre outras coisas, o combate ao racismo.


Relaxante: $65 Chapinha $55 
Abraçar minha beleza, crespa, 
cabelo natural: não tem preço

No Brasil, um país que tem o racismo tão enraizado na nossa cultura, o movimento pelo uso do cabelo natural tem se fortalecido e mudado a rotina de mulheres que há gerações são reféns de tratamentos químicos no cabelo e que hoje exibem sua cabeleira natural. Este processo acaba também resgatando a relação destas mulheres consigo mesmas, nos libertando de muitos traumas e nos levando a diversos outros questionamentos relacionados à forma como a estética eurocêntrica contribui para manutenção de uma estrutura racista no nosso país. 
Aqui no Blog já fiz um post falando sobre os motivos que me fazem defender o uso de cabelo natural e incentivar outras pretas a fazer o mesmo. Então, você já pensa:

"Legal! Vou buscar inspirações para entender um pouco mais sobre meu cabelo e poder usar ele natural!"

Aí vemos que a maioria das imagens, dicas, produtos de beleza e tutoriais são voltados novamente para um outro padrão: os cabelos cacheados! Ou seja, a gente deixa de ser refém do alisado para ser refém do cacheado. É quando você volta a sentir medo e ver que você não se encaixa mesmo nos padrões do que é socialmente bonito. É uma liberdade até a página 2. Você só pode ser natural se seu cabelo tiver cachinhos? Você só pode estar satisfeita consigo mesma se seu cabelo não for 4C? 

NÃO, CLARO QUE NÃO! 

Se você tem um cabelo 4C (que é aquele que não forma cachos ou forma poucos cachos), saiba que ele é lindo, versátil e o mais importante: ele é seu.
Para confirmar isso, conversei com Divas que tem este tipo de cabelo e que estão felizes com ele.

Dá mais trabalho? Temos que ter um cuidado especial? Você passa preconceito por assumir seu cabelo?

Queridas Divas e amigas me deram depoimentos lindos e eu fico feliz em poder compartilhá-los com vocês. São mulheres de idades, profissões e vivências diferentes. Mas, todas ostentam seu 4C com muito orgulho e vão nos dizer os motivos.
Os depoimentos são muito ricos e revelam o creme queridinho, os cuidados específicos para o cabelo 4C, os mitos construídos em torno dos crespos, mas também revelam mulheres lindas, conscientes e poderosas.
Quando vi o quanto material lindo elas me deram, eu resolvi publicar eles quase sem edição. Vale a pena cada letra, cada vírgula de leitura!


Vamos ao que interessa, a palavra é delas.


Há 3 anos a Cris usa seu cabelo natural. Ela mora em Santos, tem 28 anos e escreve para o Blogueiras Negras. Olha só o poder: começou com o cabelo tímido e a coroa agora nem cabe mais na foto!

"Meu cabelo está natural a quase 3 anos. A decisão foi difícil: sair da comodidade de ter um cabelo alisado, mas sem personalidade, foi uma luta comigo mesma. Tive o apoio da minha prima que já havia tomado a decisão de sair da ditadura do alisado e entrei no processo de transição.
Foi um processo doloroso, mas que eu vivi intensamente. Como eu não estava acostumada com ele preso e achava meu rosto horrível (eu me achava feia) optei em fazer tranças até que ele atingisse um tamanho que eu pudesse fazer o big chop. Antes disso, eu fazia muitas massagens no couro cabeludo, durante o banho. Os cremes que eu usava não eram caros, só precisava ser para cabelos "cacheados". Durante a transição, usava o cabelo preso e fazia laços grandes, sempre algo que chamasse a atenção.

Eu tinha mais trabalho em manter um liso perfeito da raiz às pontas, do que hoje mantendo meu cabelo natural.

Não tem segredo nos cuidados de um cabelo natural e para ser realista eu nem sou a mais cuidadosa depois que voltei ao crespo. Não faço super hidratações, não uso cremes de pentear caros, por que não tenho grana para isso e eu tenho muito cabelo. Para mim, o importante é passar um creme que tenha consistência e que o deixe no mínimo macio e que eu possa ter um day after de uns 3 dias. Lavo ele normalmente e só uma ou duas vezes na semana: uso shampoo anti caspa, depois qualquer um do meu gosto, condicionador e então eu o desembaraço, debaixo do chuveiro mesmo. Quando saio do banho, finalizo com creme de pentear ou de hidratação.
Passar pela transição, assumir um cabelo crespo que não forma cachos e tem muito frizz mudou muita coisa em mim. Ao longo do caminho deixei de me preocupar com a estética do cabelo, ele pode ser o que ele quiser, o dia que ele quiser, pois, pra mim ele tem vontade própria e o fato dele incomodar tanto na rua, no trabalho me fez entender que meu cabelo é um ato político. Todo este processo só fortalece minha militância."


Carol Damiá tem 25 anos e sua profissão, segundo ela, é "mãe da Rafa". A gente entende, né?

“Eu uso meu cabelo natural há 4 anos. Eu usei tranças dos 11 aos 21 anos. Quando tirei as tranças, eu descobri que não sabia lidar com o meu cabelo crespo e com volume. Acabei relaxando uma vez e detestei. Aí, incentivada por uma cabeleireira, resolvi cortar a parte com química e começar a cuidar do cabelo. Por isso, não tive um período de transição... Não gostei do cabelo alisado, cortei e pronto. Eu usei tranças por tantos anos por não ter paciência para hidratar, desembaraçar, enfim, ter a dedicação que o meu cabelo exigia. Mas, ao usá-lo natural eu entendi que se cuidar pode ser prazeroso.
A parte mais legal de usar meu cabelo natural foi descobrir as inúmeras possibilidades que a textura do meu cabelo me proporciona, além de ter me aproximado de pessoas que tem muito em comum comigo.
O meu cabelo foi a porta de entrada para um mundo completamente novo para mim. Eu fui criada por pessoas brancas, cresci imersa no mito da democracia racial, passei 19 anos da minha vida sem ter contato direto com pessoas negras, e de repente eu me encontrei. 
O cabelo crespo me levou a conviver com mulheres e a me enxergar nelas, a partir daí eu me senti parte de algo e passei a buscar entender as pautas e reivindicações daquelas mulheres que eram como eu, eu passei a pesquisar e entender a luta das que vieram antes de mim.

Eu, depois de mais de 20 anos, me entendi como mulher negra e entendi o peso e a beleza inserida nisso.

Como eu trabalho para mim, não enfrentei problemas nem opiniões contrárias no meu ambiente de trabalho. Eu sou muito despojada, sempre fui adepta da técnica wash and go. Nunca fui de usar texturização, ou grandes técnicas de finalização. No máximo, uma garfada para o volume ficar o jeito que eu gosto. Adoro a textura e as formas do meu cabelo, assim eu gosto de usar produtos fáceis de encontrar e fáceis de manusear. Sou fã assumida de Yamasterol Amarelo, Casulão, Neutrox... Não é algo com o qual eu goste de gastar tempo e dinheiro.
Para quem pensa em usar seu cabelo natural, eu acho que o ponto principal é a motivação. Porque entrar na transição buscando o cabelo igual ao de uma ou outra pessoa é furada. É um processo de descoberta e de auto aceitação, e isso vem de dentro para fora. Assumir as raízes sem focar em texturas, descolonizar a mente e aprender a enxergar as diversas formas de beleza, ter como referências pessoas que não foquem apenas no lado estético da transição, acho que são atitudes que podem tornar esse momento mais libertador."


A Beatriz tem 23 anos e é estudante de Pedagogia na UNICAMP. Super aplicada, ela pesquisa Formação Antiracista na Formação inicial de professores.

"Sou a Beatriz Regina, estudante de Pedagogia de uma Universidade pública do Interior de São Paulo, filha única da Cássia, uma mulher negra, maravilhosa, guerreira...
Para falar sobre a minha experiência em assumir e cuidar de meu cabelo 4C, eu gostaria de fugir um pouco da questão do sofrimento, entretanto em uma sociedade racista e pautada em padrões de belezas eurocêntricos, isto é quase impossível.  Todavia, uma coisa que não abro mão é também de contar as alegrias que tive ao assumi-lo, deixá-lo livre e poderoso como é.
Quando pequena, assim como outros relatos de mulheres negras, o meu cabelo era um grande problema para mim: ele não era loiro, não balançava com o vento, não era considerado bonito pelas outras crianças, pelas professoras, pela minha família e muito menos para mim, que vivia colocando a blusa, toalha na cabeça... isto me faz chorar quando lembro.
Aos sete anos, veio o primeiro alisamento, eu consigo me lembrar de como me senti aliviada, afinal os pentes que não eram feitos para meu antigo cabelo, passavam pelos fios sem muita resistência, meus fios estavam mais calmos, pacíficos... isto aliviava o peso dos padrões estéticos que eu já sentia, já sofria, chorava de soluçar e perguntava para minha mãe e para Deus o motivo de ter nascido daquela maneira tão feia.. Meu maior desejo era ser branca e ter cabelos longos e lisos.
No meio de tudo isto, eu tinha uma tia que sabia trançar os cabelos. Imediatamente utilizei de argumentos como “meu cabelo pode ficar bem grande rápido” para convencer minha mãe que me deixasse fazer as tranças.  Ela aceitou, fiquei muito feliz, contava os dias para me ver trançada. Usei tranças por bastante tempo.
Continuando sentir os impactos do racismo sobre meu corpo, resolvi tirar minhas tranças e alisar meus cabelos, na tentativa de aliviar estas dores e me sentir bonita.
Não posso me esquecer de mencionar minha avó, uma mulher negra fantástica com cabelos crespos e grisalhos. Ela muitas vezes me contava histórias, “causos” aos fazer tranças raiz no meu cabelo. Ela fazia tranças em seu próprio cabelo antes de dormir e as protegia com um lenço. Ela nunca gostou da ideia de ninguém alisando cabelo, ainda mais criança. 

Minha avó me dizia: “Para de inventar moda, seu cabelo combina com você”. 

Eu, obviamente, achava esta frase uma chatice, ela se foi e não me viu com este black power poderoso, quando penso nisto meus olhos se enchem d’água. As pessoas de quem sou mais próxima na minha família me dizem que ela ficaria muito feliz se me visse assim com meus cabelos naturais.
Assumi meu cabelo natural no terceiro ano de faculdade, já fazem dois anos. Passei pelo processo de transição por um ano e neste período usei tranças na maior parte do tempo, contudo mesmo com o cabelo todo natural continuei com as tranças.
Até lá, planejei fazer um permanente afro. Cheguei no horário marcado, a cabeleireira era negra isto foi especial para mim! Ela me perguntou o que queria tirei da bolsa fotos de mulheres negras com cabelos crespos com cachos definidos e tive a confirmação de que meu cabelo não ficaria naturalmente como os delas. Perguntei se não tinha jeito mesmo. Cogitei colocar tranças novamente, pensei em minhas conversas com outras mulheres negras e decidi me dar uma chance de me ver com o meu cabelo.  Apenas cortei as pontas e hidratei e comecei externalizar para minha mãe, para a cabeleira e para mim mesma o motivo de estar assumindo meu cabelo: “É um ato político”, “Sou bonita com meu cabelo natural”, “Isto é importante para meu processo de empoderamento”, “É uma forma de resistência”, “ É lindo”, “ É poderoso”...
Chegou o dia de retornar a faculdade, eu senti certo medo, mas já me sentia um pouco mais segura e daí vieram comentários como: “Como você está bonita”, “ Que poder!” “Que atitude!”, “ Gostava mais das tranças”, “ Porque você não define os cachos, só falta isto para ficar bonito”, “Que coragem!”, sendo a maioria dos comentários positivos foram feitos por mulheres negras.
Acho que foi quando li o texto “Ah!... MAS MEU CABELO NÃO É ASSIM” escrito por Élida Aquino, que me fez refletir e me ajudou no processo de entender e reafirmar a beleza dos meus fios. Elucido mais uma vez que este processo de assumir meu cabelo natural não foi feito sozinha, mas coletivamente com mulheres negras que conheço pessoalmente e somos confidentes umas das outras, mas também com aquelas que já li textos, vi vídeos, assisti palestras e/ ou vi desfilar seus cabelos crespos (sem ou com cachos definidos) sinto que temos uma ligação.

Isto me fez me sentir mais forte e (re)descobrir minha beleza, dos fios crespos, do corpo negro.

Hoje, depois de passar por tantas coisas, eu gosto de deixar meu cabelo ainda mais para cima, com a ajuda de um garfo. Só penteio meus fios quando eles estão molhados, sempre com pentes de dentes largos. Os produtos que mais uso são os da Deva Curl e Yamasterol. É importante lembrar: não acho que eles me dêem mais trabalho hoje do que antes.
Depois de assumir meu cabelo natural, já vi em um dos estágios obrigatórios do meu curso pelo menos duas meninas negras pararem de alisar o cabelo, e outras várias começarem a soltar seus cabelos crespos e dizerem que seus cabelos são lindos. Isto é maravilhoso!!!"


A Janes é uma cubana de 31 anos que faz doutorado no Brasil a 3 anos. O tema do doutorado dela é algo maravilhoso: racismo e identidade no rap cubano e no rap brasileiro. Eu morri de amor!!!

"Eu comecei a usar meu cabelo natural quando estava mais ou menos no segundo ou terceiro ano de faculdade (2002-2003). Voltei a usar cabelo natural porque meu couro cabeludo estava muito machucado pela química usada em Cuba para alisar os cabelos. Em Cuba o acesso a cremes para cabelo afro é bem difícil, então para passar pela transição usei tranças (2002/2003- fevereiro/2015). Hoje, não acho difícil usar meu cabelo natural porque essa decisão foi o ponto mais alto do meu empoderamento e entendimento do peso político que deixar meu cabelo solto e natural tem.

Para mim, a melhor parte de usar o cabelo natural é que me sinto livre e que minha cabeça parou de doer.

Eu não passei por dificuldades na minha faculdade, sinceramente. Foi bem tranquilo, apenas um comentário aqui e outro ali. Nada difícil de ignorar.
Eu comecei a usar mais roupa e acessórios com motivos afro e comecei a me sentir mais bela, de uma maneira muito mais reconfortante, mais minha.
Eu não sei muito sobre essas coisas de tratar o cabelo. Faço o básico: hidratação cada quinze dias, lavado semanal e ativador de cachos todo dia. Eu sei que agora está tendo muita preocupação com o low/no poo, mas eu ainda não aderi a essa tendência (por falta de tempo). Então, os produtos que eu uso talvez não estejam liberados para quem usa essa técnica. Gosto muito de Yamasterol, das linhas Mandioca e Dove e da linha anti-nós da Seda.  
Para quem está pensando em usar seu cabelo natural, eu sugiro que elas tomem o tempo necessário para passar por esse processo. Que andem no próprio ritmo. É um momento de redescobrimento não só do cabelo, mas do corpo, da identidade. Acho excelente também buscar referências para se espelhar (amigas, artistas, intelectuais etc). 
Desejo muita força e paciência na caminhada e muito estudo para sair vitoriosa e fortalecida."


Naomi Generoso é de São Paulo e é danadinha! Com 20 anos, estuda economia e tem um Blog maravilindo: www.theblackcupcake.com. Vale a pena vistar o The Black Cupcake. 

"Eu utilizo meu cabelo 100% natural desde junho de 2015. Entretanto, minha transição começou em novembro de 2014, ao todo ela durou 8 meses.
Resolvi voltar ao meu cabelo natural, depois de ter entrado para o movimento negro em feminista em 2013. Eu me sentia culpada pelo meu alisamento. Acreditava que eu pregava algo que não seguia. Ver outras mulheres de cabelo natural também foi muito importante para minha mudança, mas o que mais me deu forças para mudar foi a fala do meu atual companheiro. Ele me dizia que eu poderia ser mais bonita e mais feliz se eu fosse eu mesma.
Para auxiliar na minha transição, eu utilizava muitos óleos naturais para não danificar a linha de transição do fio. Além do método de cowash e no/lowpoo. Para não danificar o fio, eu deixava meu cabelo secar naturalmente com bigodinhos, ou apenas twits.
Hoje, eu tenho muito menos trabalho com o meu cabelo natural do que eu tinha com o alisado. As hidratações, nutrições, dormir com touca de cetim, entre outras pequenas coisas, se tornaram naturais no meu dia-a-dia. Faço escova (método blow out), mas eu ainda posso usar meu cabelo num rápido wash-n-go (lavar e sevar naturalmente). Ter liberdade do uso do meu cabelo é o que o torna mais fácil. Praticidade é tudo nessa vida. Deu errado o penteado? Afropuff na certa!

A parte mais legal de ter o cabelo natural é poder usar ele do jeito que eu quero. 

Além de não fazer chapinha de manhã cedo.  Existe coisa mais legal do que acordar cedo e não ter a preocupação com ele?
Depois que assumi meu cabelo, eu, até agora, não passei nenhum grande sufoco. O que mais me irrita é quererem tocar no meu cabelo, ou a única vez que falaram que havia um rato morto dentro dele. Ainda não sei lidar com as pessoas que querem ficar me tocando, mas em relação aos comentários maldosos eu já comecei a me impor.
Hoje, também percebo que as pessoas pararam de me olhar na rua com ‘desejo’ e começaram a me encarar com uma certa indiferença, espanto. Me tornei invisível para certas pessoas, mas vista com repulsa por muitas outras. 

Eu não me importo, ter crianças e mulheres negras me olhando na rua com admiração é o que compensa tudo isso. 

Ah! Eu tinha muita queda de cabelo, e voltar ao natural fez com que meu cabelo tivesse um grande boom!
Sobre lavar e cuidar, que são temas que sempre recebo no Blog, mas sempre falo que não há muito cuidado especial. O máximo que eu faço é lavar meu cabelo em sessões para facilitar, mas de resto é normal. Como sou blogueira, tento não limitar tanto os produtos que eu uso, mas faço hidratação no mínimo uma vez por semana.
Mas, tenho alguns produtos favoritos e atualmente meu favorito é o Aussie, mas logo ele vai acabar e eu com certeza vou mudar de favorito. O que sempre tenho em casa é o super óleo 8 da Garnier e o Yamasterol. Não consigo ficar sem!
Para as meninas que estão voltando a usar seu cabelo natural, eu daria três dicas:  1. Encontre elementos que te façam se sentir mais confortável, tenha uma grande referência, encontre representatividade. 2. Caso você tenha cabelo longo, tente fazer um primeiro corte. Corte ele até o ombro, ou mais curto. Assim, você terá feito metade do trabalho e terá mais facilidade para fazer texturizações. 3. Ao invés de gastar tempo escovando e pranchando o cabelo natural, é preferível que você texturize o seu cabelo alisado com bigudinhos, tranças, twists, entre outros segredos. O uso contínuo de calor sem cremes de proteção podem ocasionar danos. Os cachos, ou texturas mais crespas, ficarão "mortas" em seu cabelo, e não voltarão à sua forma original. Ou seja, aí sim você vai precisar de um Big Chop. 
Eu escrevi um texto sobre isso a pouco tempo que pode ser encontrado no meu blog. O nome do texto é: 'Você não precisa fazer o Big Chop hoje, mas...'. Acho que pode ser um apoio"



Marília, 31, é fisioterapeuta e mora em Santos. Fez seu BC no dia de seu aniversário de 30 anos (foto da direita). Depois que assumiu seu cabelo natural, até a sua mãe, a querida Maria Lindonor, também entrou na transição.

"Fiz o BC e uso meu cabelo natural há 1 ano e 3 meses (fora os 6 meses em transição sem química até fazer o BC).
Me inspirei fazendo buscas na internet sobretudo nas redes sociais sobre auto estima e empoderamento. 

Notei que as mulheres negras empoderadas, que passei a admirar e seguir, todas tinham cabelo natural. 

Decidi não mais usar química no meu cabelo. Mas, 2 vezes após passar 2 ou 3 meses sem química eu acabei cedendo e relaxando o cabelo por ter algum evento social importante e não saber o que fazer para arrumá-lo para a ocasião.
Usei muita escova e chapinha no processo de transição para disfarçar o cabelo com 2 texturas. Uma tarefa quase impossível para quem trabalha diariamente na piscina (sou fisioterapeuta e trabalho com reabilitação em hidroterapia).
No começo, com ele bem curtinho achei difícil usar o cabelo natural, arrumá-lo, ajeitá-lo, mas com o tempo e tooodas as dicas da internet peguei o jeito. Daí ele cresceu e outras dificuldades vieram, e mais uma vez com o tempo e dicas eu peguei o jeito tanto de cuidar (lavar, pentear, desembaraçar, finalizar).
A parte mais legal de usar ele natural é a LIBERDADE, a não dependência química e de cabeleireiro na vida. Fora a diversidade de penteados, finalizações e apresentações que o cabelo crespo proporciona. 

Meu cabelo é crespo, mas nunca é igual. Cada dia ele "acorda" de um jeito e eu aprendi a usá-lo da melhor forma pra aquele dia.

Não passei alguma dificuldade meu emprego, apenas algumas adaptações no uso da toca de piscina com o cabelo mais volumoso. Da parte dos pacientes e parceiros do trabalho recebi muitos elogios, nenhuma crítica. Muitos questionamentos: porque cortei tão curto? Por que não usar mais química? Mais questionamentos mesmo.
Em um dos empregos, depois que fiz o BC e me livrei da química, outras 2 colegas passaram pelo mesmo processo e hoje usam cabelo natural. ;)
Além do cabelo, mudei muito meu estilo de vida, perdi peso, fiquei mais vaidosa, me interesso mais por maquiagem, melhorei minha auto estima, creio que parte disse se deve ao amadurecimento dos 30 anos (risos), mas o BC contribuiu bastante para esse processo.
Não sigo protocolos nem cronograma capilar, já tentei, mas minha correria do dia-a-dia não permite. Lavo a cada 3 ou 4 dias ou conforme necessidade. Desembaraço apenas com condicionador no banho. Às vezes, faço a umectação (óleo de coco ou óleo de rícino) horas antes de lavar. Quase sempre faço hidratação com máscara + óleo de coco quando lavo. Uso creme hidratante/ definição de cachos com óleo quando lavo ou após retirada da máscara e deixo secar naturalmente, os 2 ou 3 dias seguintes uso borrifador com água e um creme mais leve (Yamasterol)
Estou sempre testando cremes e buscando marcas, escolhendo sempre pelos mais baratos, invisto mais financeiramente nas máscaras.
E "garfo" o cabelo com os dedos pra "desamassar" sem desmanchar os cachinhos das pontas, assim consigo volume e definição.
Para as meninas que estão em transição, as minhas dicas são: Muuuita, mas muuita paciência no período da transição porque sim, é o pior momento. É muito difícil lidar com o cabelo com 2 ou mais texturas. As dicas das meninas que postam tutoriais no you tube são de grande valia, mas procurem seguir as meninas que tem o cabelo natural mais parecido com o seu, ainda assim, muita dica não dá certo porque nenhum cabelo é igual. Só não pode ficar seguindo dica de menina com cabelo 3A e achar que com aquelas dicas seu cabelo 4C vai ficar igual ao dela."


Rosangela, 36, administradora e blogueira. O Blog da Rosa foi um dos primeiros Blogs que eu segui. Os vídeos do canal dela são amor a primeira vista. Linguagem simples, objetiva, direta, cheia de ideias fantásticas: coisa de Diva!


"Uso meu cabelo natural a 5 anos e 10 meses. O que me fez decidir, em abril de 2009, a não voltar no mês de maio a relaxar meu cabelo, foi uma soma de insatisfação com meu cabelo e ter descoberto um mundo (no youtube) que me mostrou a beleza do cabelo do negro. 
Não pensei duas vezes e fui pesquisar tudo que o Google me permitiu (risos). Foram noites e noites. Eu fiquei seis meses em transição e foi um período de muito aprendizado. Mergulhei de cabeça nas comunidades do Orkut para aprender e assistia aos vídeos das negras americanas, já pensando em tudo que eu iria fazer no meu cabelo, cabelo esse que eu não fazia ideia de como seria. A única certeza que eu tinha é que ele seria crespo.
Olha, eu não tive muitas problemas na minha transição, eu estava tão feliz com a possibilidade de ter meu cabelo, que nada me deixou triste. Para você ter uma ideia, um mês depois eu já estava cortando meu cabelo em camadas, pra já ir tirando a química e fui fazendo isso mês a mês , até que em novembro de 2009 fiz o big chop. Na época, adotei a rotina no e low poo para cuidar dos meus cabelos, que consiste em não usar produtos com parafina, silicones insolúveis e petrolatos.
Usar meu cabelo natural é a coisa mais fácil que já fiz.

Eu vejo que algumas pessoas colocam grandes expectativas no cabelo natural, como se ele tivesse a obrigação de perfeição sempre e isso causa muitas frustrações, pois perfeição não existe.

 Eu tenho uma relação de amor com meu cabelo, ele é parte de mim e dou a ele o direito de me mostrar as suas possibilidades e o que eu tenho que fazer é cuidar dele, como com qualquer outra parte do meu corpo, sem querer que ele se transforme em algo que ele não é, pois ele já é muitas coisas e isso me basta.

O mais legal que meu cabelo me trouxe foi tirar a venda do embranquecimento e enxergar a beleza do meu cabelo, que o cabelo do povo negro é lindo, lindo e lindo. Que as minhas raízes são lindas.

Hoje sei que meu cabelo não é ruim como foi me ensinado desde pequena e que a mídia só reforça com seus padrões de beleza. O meu cabelo é um ato político, um ato de resistência, um ato de empoderamento. 
A mudança do meu cabelo não teve obstáculo nenhum no meu ambiente de trabalho. Acredito que muito foi pelo fato de eu trabalhar desde os primeiros dias de funcionamento e por ser uma empresa que chamamos de familiar. Conheço o meu patrão desde os meus 15 anos e já trabalho com ele a exatos 18 anos. Eu trabalho no setor administrativo da empresa. Então, no meu caso, não enfrentei discriminação no meu trabalho, como acontece com muitas pretas e pretos que conheço.
Nossa... muita coisa mudou depois que assumi meu cabelo natural. Eu falo que meu cabelo só me trouxe coisas boas, pois através dele eu conheci pessoas incríveis que mudaram muitas coisas em mim. Fizeram-me enxergar todo o racismo estrutural que a gente, muitas vezes, finge que não vê, me fez trabalhar os meus preconceitos e tentar a cada dia ser uma pessoa melhor, ser politicamente correta – o que para muitos é ser a chata, que não acha graça em nada, mas que na verdade é a pessoa que consegue enxergar o racismo, a homofobia, a gordofobia, o machismo nas piadas e comentários dos amigos – e  isso faz a gente repensar se quer essas pessoas como amigas. 
Meu cabelo me trouxe uma consciência social, que antes eu não tinha, e eu fico imensamente feliz por isso, por mais que com essa consciência você muitas vezes sofre por ver tantos atos discriminatórios e ter que ter forças para não sucumbir na tristeza.
Sobre os cuidados específicos com meu cabelo, é importante saber que o crespo tende a formar nós e embaraçar com muita facilidade. Então a dica que posso dar é separar o cabelo em 4 ou mais partes na hora de lavar, lave as seções separadas, depois use uma máscara (caso vá fazer uma hidratação) ou condicionador , e nesse momento aproveite para desembaraçar o cabelo com o condicionador ou máscara, mantendo as partes separadas, depois de enxaguar (mantendo as partes separadas) é só finalizar com o creme de pentear de sua preferência. Dessa forma você evita que o cabelo embole mais ainda na lavagem, pois dependendo do shampoo usado ele resseca o cabelo e isso ajuda a embolar mais ainda. Também existem vários tipos de texturização: como tranças, twists, coquinhos...
Para quem está querendo parar de alisar, acho muito importante não colocar expectativas demais no cabelo. Não ficar comparando o cabelo com o de outras meninas e com os de artistas. Não entre na onda dos cachos perfeitos, até porque nosso cabelo é crespo, não é cacheado. Tentar ter inspirações o mais parecidas com o próprio cabelo. Falo isso, pois vejo muitas meninas com cabelo crespo com inspiração em cabelos totalmente diferentes e com isso nunca conseguem enxergar a beleza do próprio cabelo, pois estão na ilusão do outro cabelo. 
É importante saber que não é moda  para os negros e negras usarem seu cabelo natural. Significa sim romper com o racismo que faz você, desde pequena, acreditar que seu cabelo não presta, que é feio, que suas feições são feias, que sua cor é feia.  É construir uma nova estética, estética essa que vai empoderar você e muitas outras ao seu redor.  
Outra coisa importante: aceite o fator encolhimento que o cabelo crespo tem (quando depois de seco o cabelo encolhe). O cabelo crespo dependendo da textura pode encolher até 70%. Então quando você decide usar seu cabelo natural, é preciso estar ciente disso. 
Saber que seu cabelo faz parte de você e que não precisa estar milimetricamente perfeito para estar bonito. Meninas e meninos deixem seus cabelos livres!!!"
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Ler o depoimento dessas 7 mulheres me fez entrar em contato comigo mesma. Entendi um pouquinho mais da nossa beleza, não apenas física, mas a beleza das nossas vitórias como mulheres negras.
Enquanto eu lia cada depoimento deste eu chorei de alegria, de orgulho, de tristeza. Uma mistura de emoções que eu espero que vocês tenham captado.
Só posso agradecer a confiança que estas queridas tiveram ao me falar de coisas tão íntimas.
Espero que todas as sensações positivas que estes depoimentos me causaram possam servir de apoio à luta de cada mulher crespa para se amar, mas também à luta de todo o povo negro pela sobrevivência com dignidade.
UBUNTU!



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