Estilo de Vida
Aécio Neves, Presidente do Brasil?
Bird Universe, de Chris Buzelli.
Não. Antes que me rotulem de estar apoiando Aécio Neves sem ter lido o que escrevo, ou após mal ler o que segue, antecipo que esta é uma análise desapegada de qualquer propósito militante.
O presente texto não se propõe a ser um manifesto em defesa do candidato Aécio, é uma interpretação inicial, talvez até um certo ponto intuitiva, de tão simples, dos resultados do 1º turno, que se pretende isenta, nos limites de tal proposta, feita por uma pensadora leiga nos meandros da Ciência Política e dos saberes experientes dos analistas do jogo político brasileiro.
Sim. Sou apenas uma psicóloga social que olha para os movimentos da sociedade e, propondo-se imparcial, fala o que compreende a partir de determinadas leituras, a partir de certos referenciais.
O que digo e assino pode causar sofrimento, repúdio ou júbilo, mas eis o dever de quem se propõe a pensar: ser livre de pensamento, doa a quem doer, aquém às paixões, porém ciente de sua capacidade de mover as pessoas, geralmente mais do que os argumentos racionais podem.
Considerando os dados das urnas, parece-me alta a probabilidade de que Aécio Neves torne-se o próximo presidente da República. Três fatores me levam a pensar assim:
1) A soma dos votos contrários à reeleição de Dilma Rousseff;
2) A derrota de Marina Silva, candidata negra viável, após intensa campanha de difamação por ela sofrida e falta de reação com força suficiente para se contrapor; e
3) A baixa votação proporcional de Luciana Genro, representante ostensiva dos anseios dos mais progressistas movimentos sociais e ativistas autônomos.
O que cada um desses elementos me sugere?
1) A maioria da população anseia por mudanças no atual modelo do Poder Executivo Federal;
2) A invisibilidade da identidade racial e o racismo velado que prejudicaram simultaneamente a campanha de Marina reiteram a falta de solidariedade para com aqueles que representam a imagem da maioria da população brasileira; e
3) As propostas dos movimentos sociais organizados, mais ideologizados, estão desconectadas dos interesses da sociedade civil. As jornadas de junho de 2013 não repercutiram no posicionamento ético-político da maioria da população brasileira, provavelmente nem foram reflexo dele, como alguns teorizaram, mas surgiram como expressões da demanda reprimida de certa parcela dos brasileiros.
E o que a soma deles me comunica, até grosseiramente?
Que massas de brasileiros reconhecem Aécio Neves como um candidato que pode de fato trazer mudanças, mais que Marina e Luciana.
Que o modelo do líder homem cisgênero branco heterossexual casado com filhos e renda ainda não foi mudado no imaginário social. Aécio atende a esse estereótipo.
Que se os movimentos sociais mais avançados em termos do debate sobre inclusão e valorização da diversidade não alcançaram o potencial para mudar discursos, seu apoio explícito às candidaturas mais radicais ou à candidatura do status quo político que realiza políticas sociais inclusivas, por mais limitadas que sejam, é inócuo.
A leitura dos eleitores é deveras egocêntrica, em silêncio considerando seus ganhos com esse ou aquele para definir seu voto, e não o ideário desenhado por este ou aquele grupo.
Os extremos não atraem a maioria silenciosa, e Aécio está no meio-termo da transformação.
Somos um país coletivista com alta hierarquia de poder. Somos um país racista e sexista que vive o mito da democracia racial e da exotificação domesticada dos corpos femininos, no qual mudanças a longo prazo não são bem compreendidas, em termos culturais. Somos o país do jeitinho, último recurso dos excluídos para sobreviveram a nossa elite clânica, mesquinha e com visão patrimonialista.Assim, caso não haja uma reviravolta decorrente da propaganda eleitoral neste 2º turno, principalmente no que se refere às estratégias para a televisão, mais comum em nossas casas que geladeiras e mais acessada como fonte primária de informação do que a internet, percebo que a tendência é que Aécio Neves, sob a sombra de seu avô Tancredo Neves, seja eleito presidente do Brasil.
Soa esdrúxulo, porém neste meu juízo não existe amargor ou doçura. Há tão-somente uma seca constatação: o pássaro pode sim devorar a estrela.
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