Estilo de Vida
Carta de Amor
Carta de AmorCompositores: Maria Bethânia e Paulo César Pinheiro
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, que eu não ando sóNão mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, que eu não ando só
Eu tenho Zumbi,Besouro, o chefe dos tupisSou Tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiroMãos de cura, morubichabas, cocares, arco-írisZarabatanas, curare, flechas e altares
À velocidade da luz, no escuro da mata escuraO breu, o silêncio, a esperaEu tenho Jesus, Maria e JoséTodos os pajés em minha companhiaO menino Deus brinca e dorme nos meus sonhosO poeta me contou
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, que eu não ando sóNão mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, eu não ando só
Não misturo, não me dobroA rainha do mar anda de mãos dadas comigoMe ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mimÉ do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpoGarante meu sangue, minha gargantaO veneno do mal não acha passagemE em meu coração, Maria acende sua luz e me aponta o caminho
Me sumo no vento, cavalgo no raio de IansãGiro o mundo, viro, reviroTô no recôncavo, tô em fezVoo entre as estrelas, brinco de ser umaTraço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João meninoRezo com as três Marias, vou alémMe recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhasDurmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcõesCorpo vivo de Xangô
Não ando no breu, nem ando na trevaNão ando no breu, nem ando na trevaÉ por onde eu vou que o santo me levaÉ por onde eu vou que o santo me leva
Não ando no breu, nem ando na trevaNão ando no breu, nem ando na trevaÉ por onde eu vou que o santo me levaÉ por onde eu vou que o santo me leva
Medo não me alcançaNo deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampoMeus pés recebem bálsamos, unguentos suaves das mãos de MariaIrmã de Marta e Lázaro, no oásis de BethâniaPessoa que eu ando só, atente ao tempoNão começa, nem termina, é nunca, é sempreÉ tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibraFulmina o injusto, deixa nua a justiça
Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chãoE pra onde você for, não leva o meu nome nãoE pra onde você for, não leva o meu nome não
Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chãoE pra onde você for, não leva o meu nome nãoE pra onde você for, não leva o meu nome não
Onde vai, valente?Você secou, seus olhos insones secaramNão veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueiraSeus ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer somNem o bem, nem o mal pensam em ti, ninguém te escolhe
Você pisa na terra, mas não a sente, apenas pisaApenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu pianoVocê está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem almaVocê é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo
O que é teu já tá guardadoNão sou eu quem vou lhe darNão sou eu quem vou lhe darNão sou eu quem vou lhe dar
O que é teu já tá guardadoNão sou eu quem vou lhe darNão sou eu quem vou lhe darNão sou eu quem vou lhe dar
Eu posso engolir você, só pra cuspir depoisMinha fome é matéria que você não alcançaDesde o leite do peito de minha mãeAté o sem fim dos versos, versos, versosQue brotam do poeta em toda poesiaSob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi
Se choro, quando choro, e minha lágrima caiÉ pra regar o capim que alimenta a vidaChorando eu refaço as nascentes que você secouSe desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégioVivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molharO terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peitoSou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, que eu não ando sóNão mexe não!
Não mexe comigo, que eu não ando sóEu não ando só, que eu não ando só
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