Por Que Ler @s Blogueir@s
Estilo de Vida

Por Que Ler @s Blogueir@s


Artigo originalmente publicado nas Blogueiras Negras.
Fonte da foto: http://www.ronaud.com
*
POR QUE LER @S BLOGUEIR@S
Jaqueline Gomes de Jesus
Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília – UnB e Professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN
A complexidade das experiências humanas se encontra, no mundo de hoje, com a aceleração dos processos de comunicação no contexto de ações e interações interpessoais, grupais e sociais que podem parecer fragmentadas, mas que a um hipotético observador externo soariam quase uniformes.
O maior acesso a meios de comunicação alternativos aos tradicionais (de cunho eminentemente comercial, tais como os jornais, revistas, rádio e televisão), propiciado pela popularização da internet, tem visibilizado opiniões, realidades e demandas de pessoas e grupos que, historicamente, não encontram espaço nas ditas grandes mídias, mainstream.
Às margens dos canais mais privilegiados, em termos financeiros, o critério da fidedignidade na divulgação sobre o que ocorre e o que pensam determinadas populações é cada vez mais desacreditado, tendo-se em vista a subrepresentação ou representação estereotipada de, por exemplo, pessoas negras, indígenas, oriundas de comunidades periféricas ou carentes, nordestinos, mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, entre outros seres humanos oprimidos.
É por meio de blogs, microblogs, redes sociais e sites desvinculados das mídias financiadas pelo capital da propaganda ou dos governos que essa população critica as identidades que lhe foram atribuídas e constroem outras, subjetivam a sua vida e a cultura que os cerca a partir de suas próprias sensibilidades, de suas maneiras de ser, pensar e agir. Querem ser símbolos de si mesmos, e não serem retratados pela imagem deteriorada que deles tem sido difundida pelos formadores de opinião mais empoderados.
Mais do que um painel para discursos isolados, a internet tem se tornado o palco para a polifonia da sociedade civil organizada, dando conta da complexa realidade que caracteriza a contemporaneidade, pautada por uma diversidade de discursos apresentados de maneira progressivamente dinâmica e, principalmente, autônoma, por meio de redes inorganizáveis pelos modelos atuais das publicações impressas, programas televisivos e radiofônicos: a dificuldade de compreensão não decorre do formato da mídia, mas, isso sim, do espírito que fundamenta a lógica de interpretação dos fatos.
Os blogs, em tal conjuntura, tornam-se documentos básicos – e um rico material de pesquisa social – para se conhecer o pensamento contemporâneo pelo olhar dos estranhos, dos excluídos, dos outsiders, aquém dos egos comumente valorizados pelo mercado editorial e publicitário vigente.
Para quem quiser entender as recentes mobilizações sociais de rua em todo o Brasil, organizadas por meio das redes sociais virtuais, uma leitura a partir desses olhares desvinculados de instituições formais é imprescindível. Engana-se e enganará outros, quem pensa que entenderá o modus operandi de manifestantes com discursos difusos contra toda e qualquer autoridade, se não buscar conhecer suas visões de mundo e posicionamentos postados em microblogs, blogs, murais e comentários ao longo da web.
Por isso é importante ler as/os blogueiras/os e demais escritores do ponto.com: ao contrário do senso comum sobre essas produções, que geralmente as simplificam como meras expressões de intencionalidades militantes sem fundamentações teóricas ou empíricas sólidas, entendo que os textos pluralizados no mundo virtualizado são recursos poderosos para questionarmos algumas perguntas e respostas prontas; são retratos de atitudes progressistas para com a nossa vida hiperconectada, porém ainda muito aferrada a conceitos e práticas caducos.
Sim, esses textos não buscam – pelo menos não imediatamente – resultado algum senão o de relatar experiências de identidades/alteridades sistematicamente desprezadas pelo mercado.
Ressalto que não pretendo aqui defender uma consciência coletiva idealmente racional e uniforme advinda da internet, porém, também não advogo o propalado discurso do mau uso da web como se fosse uma exclusividade dela.
Há de fato desinformação, evidente ódio e preconceitos explicitados, porém esses novos e interativos meios de comunicação vão além disso, configurando um quadro vivo dos temas que afetam parcelas politicamente e economicamente minoritárias da sociedade da informação, que no caso de grupos como o de negros e o de mulheres (negras ou não) constituem uma maioria demográfica.
Os blogs, microblogs, sites, redes sociais e tantos outros recursos do mundo virtual, no seu desarranjo e ingovernabilidade, são o território no qual estão sendo gestados os seres humanos digitais, assim, no plural mesmo; os quais, nestes dias, têm demonstrado que reconhecem a importância de levarem suas vozes para o espaço das ruas, aqui e em outros cantos do mundo físico.
*



loading...

- O Que As Recentes Mobilizações Sociais Falam Para A Psicologia?
O QUE AS RECENTES MOBILIZAÇÕES SOCIAIS FALAM PARA A PSICOLOGIA? Quando lhe/me faço essa pergunta estou, fundamentalmente, trazendo à baila uma brevíssima reflexão sobre trabalho e instrumentalidade da Psicologia. Psicologia, entenda, está aqui...

- Hão De Se Escrever Micro-histórias Dos Trabalhadores?
Há inúmeras análises teóricas e vários estudos empíricos sobre o mundo do trabalho; são publicadas pomposos livros sobre as sagas dos grandes empresários e líderes; são escritas histórias romantizadas sobre as organizações de trabalho, quase...

- Hoje é Dia De Parada, Para Quem?
É lamentável o rumo homogeneizante que os discursos sobre as Paradas do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e demais pessoas Trans (LGBT) têm tomado. Os seus exemplos máximos são a divulgação e as falas na mídia e nas...

- Psicologia Social E Movimentos Sociais: Uma Revisão Contextualizada
É com muita satisfação que informo que meu artigo "Psicologia Social e Movimentos Sociais: Uma Revisão Contextualizada", acaba de ser publicado pela Revista Psicologia e Saber Social, da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, disponível...

- A Negação Do Corpo Feminino
Life in plastic, performance de Sussa Rodrigues. . Abaixo segue transcrição do artigo A Negação do Corpo Feminino, de minha autoria, publicado no dossiê Narrativas em Redes Sociais, edição 02/2012 do Observatório Mídia & Política, do Núcleo...



Estilo de Vida








.