Movimentos de Luta pela Libertação
Estilo de Vida

Movimentos de Luta pela Libertação


"A história da sociedade brasileira, defendem Aquino e cols. (1999, 2000), só pode ser conhecida quando a oficialidade dos vencedores é contrastada ante ao papel da participação popular na busca de justiça social, democracia e humanismo real, mascarada pela repressão.
A sociedade civil organizada, em semelhante conjuntura, conforme definido por Schiochet (1999), constitui-se enquanto 'instrumento conceitual de politização do social' (p. 7), significando que a sociedade se organiza para a política por meio dos movimentos sociais, de modo que os indivíduos participantes desses movimentos, os contemporaneamente denominados 'ativistas' ou 'militantes' são em si mesmos veículos do interesse da coletividade, e não apenas de seus próprios interesses.
Exemplos de resistência à falsa cordialidade do escravismo brasileiro, defendida por autores como Gilberto Freyre (2003), reverberam em toda literatura científica e nos documentos históricos. Como resgatou Silva (2001), a partir da análise do trabalho realizado por escravos e libertos no Rio Grande do Sul com o manuseio de químicas, observa-se que os escravos formavam redes de solidariedade até mesmo para obtenção de drogas com as quais alguns envenenavam 'toda a ceia da família de seu senhor' (p. 31), e muitos praticavam 'feitiçaria', sofriam alcoolismo, tabagismo ou consumiam-nas para entorpecimento, cometiam suicídios: era comum os senhores de escravos vigiarem o parto das escravas, para que essas não matassem seus filhos recém-nascidos, evitando assim que as crianças fossem escravizadas desde a pequena infância. Tudo isso realizado como prática de resistência ao horrível martírio da escravidão, prática de suicídio como libertação, reiterada desde a Antiguidade, simbolizada inclusive na literatura eurocêntrica por figuras clássicas como Demóstenes e Cleópatra, que como milhões de outros não-libertos na História, livravam-se da morte ignominiosa, da injúria ou da servidão perpétua conduzindo sua morte com as próprias mãos.
É uma constatação dos movimentos de resistência à opressão e em prol da libertação em qualquer lugar do mundo, especialmente nos países submetidos aos regimes colonialistas, como as nações africanas, que esses regimes buscam a legitimação de sua autoridade por meio do trabalho de aproximação entre os sujeitos colonizados e caricaturas de sua identidade histórica (South West África People’s Organisation of Namíbia – SWAPO, 1987).
O movimento pela libertação, assim, configura-se não só como um ato de liberação física, mas principalmente de independência psicossocial ante à força do opressor.
Historicamente, o sucesso ou o fracasso dos movimentos sociais pela libertação depende, segundo Rudé (1991), da sua associação e influência ante aos detentores do poder, em especial 'as forças armadas à disposição do governo'; esse dado é especialmente verificável quando se refere ao Brasil, em que a obediência das forças armadas ao governo instituído sempre foi uma variável mais fortemente dependente de fatores sociais e políticos do que unicamente militares. Pode-se traduzir essa força armada como uma força da arma, ou em poder de intervir materializado.
A ação pela libertação dos oprimidos, destarte, é um processo de empoderamento que, por meios particulares, resulta na libertação. Conforme apontado acerca do pensamento de Gramsci, segundo Finelli (2001), somente enquanto resultado, e não como princípio, é que se pode avaliar a capacidade de ação de uma subjetividade sobre a história, resultado constatado por meio da evolução dos grupos subalternos do nível das iniciativas tão-somente econômicas para o nível das iniciativas culturais e políticas".
Trecho extraído de JESUS, J. G. (2005). Trabalho escravo no Brasil contemporâneo: representações sociais dos libertadores. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. Brasília: Universidade de Brasília, pp. 52-54. Disponível eletronicamente em http://issuu.com/jaquelinejesus/docs/libertadores_de_escravos_no_brasil_contempor_neo.



loading...

- Ainda Que Tardia: Escravidão E Liberdade No Brasil Contemporâneo
"AINDA QUE TARDIA: Escravidão e Liberdade no Brasil Contemporâneo" (Gramma Editora, 102 pgs., R$ 28) é o único livro, escrito por uma psicóloga, a tratar do drama da escravidão no Brasil contemporâneo. Em 2005, Jaqueline Gomes de Jesus defendeu...

- Todo O Poder Emana Do Povo
Henfil! "A noção de que todo o poder emana do povo não mais é entendida como uma conquista abstrata, porque restrita a princípios universalistas, mas como uma justificativa para a busca por novas formas de participação, para além do voto em representantes....

- Aspectos Psicossociais Da Mobilização
Passeata dos 100 Mil, 1968.Fonte: http://feab.wordpress.com/2009/12/03/a-une-as-fraudes-e-a-criminalizacao-dos-movimentos-sociais "As sociedades contemporâneas são caracterizadas pela pluralidade de sujeitos participativos e pela descentralização...

- Quem Liberta Quem? Percepções De Libertadores De Escravos No Brasil Contemporâneo
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/PA?dd1=7618&dd99=view. Abaixo seguem o resumo e o abstract do artigo.. QUEM LIBERTA QUEM? Percepções de Libertadores de escravos no Brasil ContemporâneoWho frees who? Perceptions of liberators of slaves in contemporary...

- Prazer E Sofrimento Na Percepção Do Trabalho Escravo Contemporâneo
Abaixo transcrevo outro resumo que comuniquei no II CBPCT, sobre como libertadores de escravos no Brasil contemporâneo representam socialmente o seu relevante trabalho. Foi tema do meu mestrado. Publicado originalmente aqui. PRAZER E SOFRIMENTO NA PERCEPÇÃO...



Estilo de Vida








.