Crimes de Ódio contra Moradores de Rua
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Crimes de Ódio contra Moradores de Rua


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Asa Sul, Brasília, 20 de abril de 1997, madrugada de domingo: cinco jovens ateiam fogo em Galdino Jesus dos Santos, líder indígena da etnia Pataxó Hã Hã Hãe, porque pensavam que era um mendigo.
Barra da Tijuca, Rio, 23 de junho de 2007, madrugada de sábado: quatro rapazes roubam e espancam a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, porque achavam que era uma prostituta.
São João da Boa Vista, interior de São Paulo, 15 de julho de 2011, noite de sexta-feira: sete homens agridem pai e filho, decepando parte da orelha esquerda do pai, porque os confundiram com um casal gay. Seria exaustivo listar centenas de outros crimes como esses, apenas nas últimas décadas, que se repetem.
O nível mais acentuado de manifestação coletiva de desvalorização do outro é o ódio. Crimes de ódio são motivados por preconceito contra características que identifiquem alguém como parte de um grupo discriminado, e se expressam da forma mais brutal e covarde: a agressão em grupo, incluindo linchamentos.
O ódio se manifesta em circunstâncias como as das recentes execuções de moradores de rua em Santa Maria e no Areal (aqui em Brasília, porque entendo que Brasília é toda a área urbana do Distrito Federal), decorrentes da banalização da violência, e não por vivermos em uma época e sociedade especiais, em que a vida tem pouco valor. Basta lembrarmos que, apenas no século XX, vivemos nazismo, holocausto, apartheid, segregação racial, genocídio dos armênios e muitos outros episódios trágicos, para reconhecermos que a História da Humanidade é repleta de ódio e pouco valor dado à vida dos outros.
A diferença da nossa época para as anteriores é que vivenciamos um contexto democrático, de proteção aos cidadãos. Entretanto, não bastam legislações humanistas se a sociedade banaliza os direitos das pessoas. Crimes de ódio não surgem porque a sociedade os banaliza, eles ocorrem porque alguns indivíduos identificam, nessa sociedade que banaliza determinados cidadãos, as condições ideais para exercerem impunemente seu ódio.
Se há algo de que se pode acusar a sociedade brasiliense, em particular, é que o mal já era banalizado antes dos crimes contra moradores de rua. Apesar de ser comum, será normal que seres humanos, incluindo crianças e adolescentes, vivam expostos às intempéries, sob condições deploráveis? Pessoas em situação de rua também têm personalidade, desejos, necessidades, gênero, cor, orientação sexual, idade. Valorizá-los significa auxiliá-los a sair daquelas condições, dignamente, para que possam viver plenamente as suas próprias histórias.
Os moradores de rua são a face mais precarizada de sociedades que não promovem a melhoria da qualidade de vida de cidadãos pobres ou sujeitos a diversos riscos sociais.
Esta sociedade também banaliza antigos preconceitos contra vários segmentos da população, expressos primeiramente nas escolas, e que apenas ganharam destaque ao receberem o nome de bullying, e tratados como se fossem parte de um fenômeno novo, apesar de sempre terem ocorrido, mesmo não sendo visíveis como atualmente.
A omissão dos indivíduos e a inação do Estado ajudam a preservar ódios incontidos dos que se aproveitam da quietude matutina ou da escuridão noturna para ridicularizar ou agredir pessoas abandonadas, algumas vezes estigmatizadas como vagabundas ou criminosas.
Muitos cidadãos se sensibilizam com o sofrimento dos outros, neste caso o dos moradores de rua, mas para realmente mudarmos tal situação, não são suficientes constatações como a de que a probabilidade de casos de violência aumenta em áreas urbanas densas ou de que o mal é banalizado.
Punir os criminosos é o mínimo. Entretanto, outras agressões e assassinatos infelizmente continuarão ocorrendo enquanto não houver inclusão socioeconômica das pessoas desabrigadas, para que se tornem cidadãos com trabalho e moradia, e vivam, além de apenas tentarem sobreviver.
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