O Terror dos Rolezinhos, O Terror das Massas Apartadas
Estilo de Vida

O Terror dos Rolezinhos, O Terror das Massas Apartadas


Fonte da foto aqui, autoria não identificada.

Acabamos de testemunhar, neste país, o direito à reunião para manifestação pública ser cerceado, apenas em função de um vago temor de depredação e violência. Isso valeu para alguns dos rolezinhos, mas não para outras formas de agremiação que aconteceram e acontecem em vários shoppings.

Com tal diferença de tratamento se estaria assumindo que no Brasil existe um tratamento para alguns grupos sociais, em determinadas situações, o qual não cabe para outros grupos sociais nas mesmas situações?

Em um país estruturalmente classista e racista como o nosso, no qual a desigualdade social é indissociável da desigualdade racial, esse princípio soa como um reconhecimento, por um lado, de tenebrosa instrumentalização de mecanismos de poder e controle social por interesses oligárquicos de certas elites; e por outro lado, de uma vívida ocupação de espaços apartados para pessoas de classes socioeconômicas mais carentes.

Manifestação pública se resume a manifestação política? Ou ideológica? Ou religiosa? Por que manifestação pública não pode ser por diversão, festa, relacionamentos afetivos? Ou, nos termos coloquiais, para fazer um rolê, bater papo ou paquerar?

Nestas terras, onde ainda se leem as elucubrações de Freud, Reich e outros autores do começo do século XX sobre as massas - transformadas em representações sociais - como se fossem das produções teóricas mais atualizadas acerca da temática, não espanta que prevaleça o terror com relação às multidões que adentram em estabelecimentos privados de acesso público.

Essa não me parece uma demanda para a segurança pública, e tampouco me parece, ao contrário do discurso oficial, um mero reflexo da ausência de políticas públicas de cultura e lazer para essa parcela da população.

Essa, a meu ver, é uma das expressões de um dos profundos traumas brasileiros não tratados: a apartação social que não foi estabelecida legalmente, mas que permanece e se replica (com pouca ou nenhuma intervenção do Estado no sentido de dirimi-la), em todos os espaços de poder, públicos ou privados.



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